14 de outubro de 2011

Estudo aponta falha na cobertura de direitos da mulher na mídia


Abordagem sobre mulheres na política focada majoritariamente na disputa presidencial de 2010, violência contra as mulheres reduzida a caso de polícia e, nos dois temas, ausência de enfoque em políticas públicas. Estas são algumas deficiências da cobertura jornalística brasileira identificadas pelo projeto Monitoramento da Cobertura Jornalística como estratégia para a promoção da equidade de gênero.


Realizado pela ANDI, Instituto Patrícia Galvão e Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, o monitoramento analisou a cobertura de 16 jornais de todas as regiões brasileiras em 2010 – quatro deles com circulação nacional –, observando os temas Mulheres e Política, Mulheres e Trabalho e Violência Contra as Mulheres.

Para Jacira Vieira, pesquisadora e diretora-executiva do Instituto Patrícia Galvão, o ano de 2010 foi marcado por presença importante do tema Mulheres e Política nos veículos pesquisados. "Há uma significativa produção midiática nos espaços de opinião, impulsionada pela candidatura expressiva de duas mulheres, Dilma Rousseff e Marina Silva. Então foi um ano excepcionalmente singular, por si só justificaria o interesse jornalístico pelo tema”, explica.

Apesar disso, o ponto negativo na cobertura é exatamente o enfoque quase que total nas eleições presidenciais, assunto presente em 40,99% das 231 notícias analisadas. "Isso é desfavorável. Porque no futuro pode ser que a gente não tenha um cenário de mulheres concorrendo, e aí não vai haver destaque jornalístico para o tema nas mulheres na política?”, questiona. 

Entre as lacunas da cobertura, aponta a ausência de matérias sobre ações de estímulo à participação feminina na política. "Foi um tema quase ignorado, a imprensa garantiu apenas espaço residual”, ressalta. 

De fato, apenas 4,24% das matérias trataram da Lei Eleitoral, embora a norma tenha sofrido mudanças importantes para o estímulo das mulheres na política. Uma minirreforma determinou que os partidos devem preencher cota de 30% de mulheres candidatas, ao invés de apenas reservar esse percentual para as mulheres. "Isso teve cobertura mínima, o tema não recebeu a devida atenção e faltou profundidade”, afirma.

Sobre a temática Violência Contra as Mulheres, a pesquisadora e editora-chefe da Agência Patrícia Galvão, Marisa Sanematsu, considera que há uma cobertura importante e significativa, quando mais de 20% das 1.506 matérias pesquisadas tiveram chamadas nas capas dos veículos. "A violência doméstica é um dos temas mais abordados, visto como um crime, não mais como uma coisa privada”, comemora.

Por outro lado, a pesquisadora enfatiza que "não falta quantidade, mas falta qualidade”. Isso porque as matérias têm enfoque policial, privilegiando abordagem individual do caso, presente em 73,78% das notícias analisadas. Até mesmo as chamadas nas capas têm apelo sensacionalista.

35,10% dos textos sobre violência cometida contra mulheres são publicados nas seções de notícias locais. Os cadernos policiais ficam com 15,70%, enquanto nos espaços opinativos estão menos de 6% das matérias, o que dá uma mostra da abordagem pouco reflexiva sobre o tema.

"A violência não é problematizada, não é vista como algo que tem a ver com políticas públicas e legislação. Por isso, as fontes mais ouvidas, 25,83%, são representantes policiais, delegados e delegadas. São ouvidos ainda especialistas, porém geralmente são advogados, e não estudiosos do assunto”, critica. A sociedade civil representa apenas 1,41% das fontes procuradas por jornalistas.

Marisa conclui que a cobertura é pouco crítica. 96% dos textos não fazem referência a serviços de denúncia ou atendimento às vítimas de violência, enquanto mais de 86,67% das notícias não mencionam nenhuma das legislações existentes na área. Apenas 2,13% das notícias sobre o assunto abordaram políticas públicas. Outro problema diz respeito à Lei Maria da Penha, muito citada, mas de conteúdo ainda pouco conhecido, segundo a pesquisadora.

"À mídia falta fazer seu papel de fiscalizador, crítico do Estado e prestar serviço, indicando locais onde as mulheres possam denunciar e procurar ajuda”, assinala.

Por fim, ela espera que o estudo cumpra seu papel de "apontar os pontos positivos, mas fazer a crítica à cobertura, apontando caminhos para que a mídia possa contribuir a esse esforço contra a violência de gênero”, arremata.

Fonte: Adital

Zimbabué: Mulheres libertam-se online num país conservador como Zimbabué


Num país descrito em grande parte como conservador, onde relembram constantemente às mulheres o seu lugar dizendo-lhes o que devem discutir abertamente ou o que não podem, numa sociedade que muitos vêem como parada no tempo, a Internet tem oferecido uma plataforma valiosa para a discussão de temas que de outra forma permaneceriam tabus. Afinal de contas, isto é o Zimbabué, onde o presidente é conhecido mundialmente pelos seus fortes pontos de vista contra assuntos como a homossexualidade.
Mulheres blogueiras e utilizadoras do Facebook aproveitaram estas plataformas para discutirem temas relacionados com a sua sexualidade e com tudo aquilo que faria corar, sem dúvida, o Presidente Mugabe. Elas criaram tudo nestas plataformas, desde as suas próprias bases informáticas chamadas de ”tias agonizantes” até à desfragmentação do papel das mulheres na política e na economia.
A Internet tem oferecido plataformas valiosas para a discussão de questões que são comumente consideradas tabus. Fonte da foto: página do Facebook da Makhox Women's League.
A bloguer Delta Ndou [en] descreve o seu blogue como espaço para ”reflexões de uma feminista”, e, tratando-se do Zimbabué, podemos considerar esta afirmação audaciosa. Ndou tornou-se de alguma maneira uma celebridade da Internet graças ao seu blogue, onde escreve sobre qualquer coisa desde o teste de Papanicolau, passando pelo casamento, pelo sexo e sem esquecer as mulheres que traem os maridos. Numa publicação intitulada “O exemplo de Hillary” [en], Ndou debate o futuro da Secretária de Estado Americana Hillary Clinton e como esta lidou com o escândalo envolvendo Bill Clinton e Monica Lewinsky.
 Num dos textos publicados no blog, Ndou escreve sobre o Papanicolau:
I mean if women can sit through a 5 hour hair-braiding session; and the time we sacrifice towards looking good in salons – we can actually spare a few hours for our cervixes to get inspected. For the record, having done the pap-smear; I am not expected to show up for another one until after 2 years so the convenience and peace of mind was worth the experience. Do yourself a favor… if it means wearing a disguise, traveling to another city where no one knows you or whatever – get a pap-smear.
Quero dizer, se uma mulher consegue ficar cinco horas sentada a arranjar o cabelo; fora o tempo que sacrificamos para ficarmos bonitas - podemos então gastar algumas horas para que nos inspeccionem o cérvix. Para que conste, depois de feito o Papanicolau só devo repetir o exame daqui a dois anos portanto a vantagem e a paz espírito valeram a experiência. Faça um favor a si mesma…se para fazer este teste significa ter de disfarçar-se,  de viajar para outra cidade onde ninguém a conhece ou seja lá o que for - certifique-se que faz o teste de Papanicolau.
São coisas deste género que trouxeram popularidade ao blogue. Ela continua:
You need it and it’s free. While issues like male circumcision have enjoyed much prominence in media coverage; the need for pap-smear testing remains a very obscured but pressing health care issue. So this article is a modest contribution to address this oversight. Men go and get circumcised. Women go and get a pap-smear.
O exame é gratuito e você precisa dele. A circuncisão masculina tem sido alvo de destaque nos meios de comunicação; a necessidade do Papanicolau tem estado à sombra embora seja um assunto premente. Por isso este artigo é uma contribuição modesta para a resolução deste descuido. Homens, vão circuncisar-se. Mulheres, vão fazer o teste de Papanicolau.
Ela não é a única a dizer online o que lhe vai na cabeça. A bloguer Fungai Machirori leva o “discurso feminista” a um nível mais alto. Machirori escreve sobre vaginas e tudo o que provoque “choque e pavor” às pessoas normais do Zimbabué e é a sua escrita que define a essência dos blogues: liberdade de expressão.
Numa das suas publicações Machirori pergunta sem pudores, “Que aspecto tem a vagina?” [en]:
Qual é o aspecto “normal” de uma vagina?
What does a ‘normal’ vagina look like?
This might be a startling question for you, but when you really think about it, it is quite valid.
They come in all shapes and colours, but we never dare investigate…
Unlike men who know about average inches and centimetres for their appendages, we women don’t really know much about our sexual organs…
We women rarely look at our own vaginas, let alone anyone else’s – so how should we know?! Unlike men who have to interact with their penises each time they urinate or change their underwear, we women hardly ever pay attention to our vaginas. Besides, it’s not like it’s easy to get them in full view anyway. Mirrors and strange positions are required and this just adds to the awkwardness of trying to become knowledgebale about your own body.
And sadly, the only time many young women become aware about the appearance of the vagina is when they are forced to alter it from its own natural state.
Esta pergunta pode ser surpreendente mas se pensarmos mesmo sobre isto, veremos que é uma pergunta válida.
Há vaginas de todos os formatos e cores, mas nunca nos atrevemos a investigar…
Ao contrário dos homens que sabem todos os detalhes e centímetros dos seus apêndices, nós mulheres não sabemos muito acerca dos nossos orgãos sexuais…
Nós mulheres raramente olhamos para as nossas vaginas, quanto mais para as vaginas das outras - portanto como as poderíamos conhecer? Ao contrário dos homens que têm de interagir com os seus pénis cada vez que urinam ou que trocam a roupa interior, nós mulheres raramente prestamos atenção às nossas vaginas. Além disso, não é propriamente fácil vê-las. Exigem-se espelhos e posições estranhas e a isto acrescenta-se a estranheza de tentar ter conhecimentos sobre o próprio corpo.
E infelizmente, a única vez em que as mulheres jovens tomam consciência da aparência das suas vaginas dá-se quando são forçadas a mudá-la a partir do seu estado natural.
A bloguer Shonavixen [en] começou recentemente um desafio bloguista de 30 dias que será indubitavelmente considerado pelos seus companheiros internautas como uma produção prodigiosa.
O Facebook não passou despercebido às mulheres que criaram o seu próprio grupo chamadoMakhox Women's League.
As publicações são escritas geralmente em SiNdebele, língua local e isto talvez seja um indicador de que a utilização das línguas locais para dar voz e espaço a tudo começa a ganhar terreno na cyber esfera. É aqui que as mulheres trocam de papéis como “tias agonizantes ” e “em agonia”, e estas trocas nâo têm preço. Este grupo tenta utilizar este espaço através de expressões pessoais que a media convencional falhou em preencher e que por natureza das trocas entre os membros, nunca veriam a luz do dia “num jornal familiar”.
Pode ler-se [en] o último tópico na página do grupo: 
What are the disadvantages of being a stepmom or are there any advantages or something you've seen either good or bad…. Let's share makhosikazi. RM.
Quais são as desvantagens de ser-se madrasta ou existem vantagens ou qualquer coisa que se tenha visto de bom ou de mau. Vamos partilhar makhosikazi. RM.
O Facebook tem-se tornado, de facto, ponto de encontro para o debate de temas “tabu” entre as mulheres do Zimbabué. Numa das suas publicações, Machirori fala sobre mulheres que namoram homens mais novos e algumas mulheres levam este discurso para aquela que é verdadeiramente a maior rede social do mundo, o Facebook.
Machiroriquestiona [en]: “Se as mulheres do Zimbabué no Facebook dizem que não se importam de sair com homens mais novos, será possível que as coisas estejam a mudar?”
Isto é particularmente interessante porque é um tópico em que a sociedade do Zimbabuense não aceitaria debater abertamente, mas claro, espera-se que os homens casem com mulheres bem mais jovens! Talvez estas bloguers feministas estejam a expôr as inconsistências através do único canal de que dispõem: a blogoesfera e o Facebook.
São tempos de mudança concretas, como cantava Bob Dylan. E graças à Internet e ao aumento da presença de mulheres na rede.

Conheça a personalidade política de Dilma


Um dos elementos que costuma mais chamar a atenção nos políticos é a personalidade deles e a forma com que se relacionam com seus eleitores em potencial. Muitos deles deixam transparecer um lado mais brincalhão e descontraído, enquanto outros são mais frios e sérios.

O contraste entre a personalidade do ex-presidente Lula e Dilma Rousseff, por exemplo, é explícita. Enquanto Lula era visto pelo mundo todo como um líder carismático e simpático, Dilma vem sendo notada como uma política mais “firme” e séria.

A revista americana Newsweek a apelidou até mesmo de “Dilma Dinamite” em sua última edição. O título da reportagem também chamou a atenção : “Don’t mess with Dilma” (“não brinque com Dilma”, em tradução livre).

Outras mulheres da política mundial também têm uma personalidade que desbanca qualquer um que ainda acredite no protótipo do “sexo frágil”. Angela Merkel, Chanceler alemã, e Hillary Clinton, Secretária de Estado americana, têm uma postura séria e, apesar do preconceito ainda existe contra mulheres no meio político, conquistaram respeito.

Para a cientista política e professora da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Roseli Coelho, esse traço da personalidade da presidente brasileira não é negativo.

“Não é um traço simpático, mas as pessoas estão se acostumando e não poderia ser de outra forma.  Esse é o caminho que ela escolheu para criar uma persona política e tem a ver com o jeito pessoal dela pessoal, mesmo”, afirmou.

Para Roseli, o preconceito contra as mulheres dentro da política também está prestes a acabar. “Tenho a impressão de que em algumas décadas  essa diferença entre homens e mulheres na política vai desaparecer. Isso é um traço da modernidade. Tenho a impressão de que as últimas fortalezas do machismo estão caindo”. 


Fonte: Isabella Ayub

Dilma critica desigualdade feminina na política e patente de remédios


Dilma critica desigualdade feminina na política e patente de remédiosNa estréia em eventos da Organização das Nações Unidas (ONU) paralelos à Assembléia Geral desta quarta-feira (21), Dilma Rousseff diz que desigualdade de participação feminina na política ainda ‘permanece’, apesar de ‘avanços notáveis’. E defende quebra de patentes para combater doenças crônicas como ‘direito humano à saúde’.

BRASÍLIA – No primeiro dia de reuniões promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em paralelo à Assembléia Geral anual que acontece nesta quarta-feira (21), a presidenta Dilma Rousseff criticou a desigual participação política feminina no Brasil e no mundo. E defendeu a quebra de patentes de remédios que combatem doenças crônicas.
Em discurso de 10 minutos em reunião sobre mulheres na política, disse que será uma “honra” ser a primeira a abrir a Assembléia Geral. Mas assinalou que a desigualdade de gênero no Brasil e no mundo ainda “permanece”, apesar de “avanços notáveis”.
“Em pleno século XXI, são as mulheres as que mais sofrem com a pobreza extrema, o analfabetismo, as falhas dos sistemas de saúde, os conflitos e a violência sexual”, afirmou Dilma, para quem a atual crise econômica global pode “agravar a “feminização da pobreza”.
Segundo a presidenta, “ainda resta muito a ser feito para ampliar a participação política das mulheres” também no Brasil, onde 52% da população é feminina, mas com representatividade de apenas 10% no Congresso Nacional, por exemplo.
E aproveito para dizer que tem dez ministras e que o “núcleo central” do governo é feminino, em alusão a três ministras do Palácio do Planalto – Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Helena Chaas (Comunicação Social).
Quebra de patentes
Antes do encontro sobre mulheres, Dilma participara de reunião sobre doenças crônicas não-transmissíveis e defendera que acesso a medicamentos e prevenção à saúde devem caminhar juntas, numa alusão à histórica posição favorável do Brasil à quebra de patentes de remédios para tratar doenças crônicas.
“O Brasil respeita seus compromissos em matéria de propriedade intelectual, mas estamos convencidos de que as flexibilidades previstas no Acordo TRIPs da Organização Mundial do Comércio, na Declaração de Doha, sobre TRIPs e saúde pública, e na estratégia global sobre saúde pública, são indispensáveis para políticas que garantam o direito à saúde”, afirmou Dilma no discurso, que teve seis minutos.
O Acordo TRIPs, assinado em 1994, constitui o mais importante instrumento multilateral de mundialização das propriedades intelectuais. 
Dilma reiterou a importância de garantir o acesso universal aos medicamentos para doenças crônicas – especialmente hipertensão, diabetes, câncer e doenças respiratórias -, usando índices de mortalidade brasileiros como exemplos.  
“No meu país, 72% das causas não violentas de óbito entre pessoas com menos de 70 anos são por essas doenças”, disse, explicando que o Brasil defende o acesso a medicamentos como direito humano à saúde. “Sabemos que é elemento estratégico para a inclusão social, para a busca da equidade e para o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde”.
A presidenta também elencou as medidas adotadas pelo governo para evitar tais mortes, como a distribuição gratuita de remédios para o combate à hipertensão e ao diabetes, programas de incentivo à prática de atividades, físicas e combate ao tabagismo, dentre outras medidas.
A presidente encerrou sua fala convidando os presentes a participarem da a conferência mundial sobre os determinantes sociais da saúde, que o Brasil promove em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), de 19 e 21 de outubro, no Rio de Janeiro.
Fonte: Najla Passos – Especial para a Carta Maior

Financiamento público não extingue "caixa dois"


Aclamado pela maioria das bancadas no Congresso, o financiamento público de campanha não é garantia de combate contra a corrupção eleitoral. Especialistas dizem que a restrição legal de dinheiro privado em projetos políticos não vai inibir o lobby de empresários e pode escancarar portas ilegais para o recurso não contabilizado, o chamado caixa dois.
O projeto de financiamento público que tramita na Câmara dos Deputados visa retirar verbas privadas do processo eleitoral. O gasto na campanha proviria de tributos e arrecadações do poder público, que seriam repartidos aos partidos políticos por critérios previamente estabelecidos, como representatividade nas esferas de poder e quantidade de filiados.
Deputados e senadores afirmam que, sem recurso privado, o "toma lá, da cá" presente no cotidiano político seria dizimado. O problema, rebatem especialistas, é o emaranhado de corrupção que permeia todos os setores políticos. Candidatos com potencial eleitoral receberiam aportes de empresas privadas. Caso alcance o poder, o candidato retribuiria as benesses de campanha, como facilitação em licitações de grande porte.
"Não adianta somente instituir o financiamento público de campanha se o sistema em que vivemos depende do capital que entra. A corrupção está tão intrínseca na política nacional que qualquer debate, por mais brilhante que seja na teoria, na prática fica inócuo", analisa Maria do Socorro Sousa Braga, cientista política e professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos.
O texto original da proposta, que segue travado no Congresso, engloba série de alterações nas regras do jogo eleitoral. Entre elas estão o fim das coligações proporcionais e mudança no sistema de votação - que poderia deixar de ser por eleição direta, mas com quociente eleitoral, para votos em lista fechada, na qual o eleitor vota no partido e não no candidato.
Nenhuma das discussões avançou porque os deputados pretendem votar exclusivamente cada item. Porém, como os artigos são correlacionados, o debate exclusivo fica prejudicado.
O professor da Fundação Santo André Marco Antônio Teixeira assegura que adoção do financiamento público de campanha depende também da aprovação do processo de votação em lista fechada. O cientista político crê que, com concentração de recurso para o partido e não ao candidato, fica mais simples seguir as transações financeiras. "Se o financiamento público fosse adotado com o sistema de votação atual, abrira mais portas para a corrupção."
Opinião semelhante tem o professor Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas. O especialista, contudo, acredita que há espaço para aplicação de verba pública e privada. E, aliado a isso, uma forma eficaz de acompanhamento da movimentação econômica.
Mas Couto é reticente à exclusão do caixa dois no processo político. "Só conseguiríamos eliminar a corrupção se adotássemos punições mais severas aos envolvidos no crime. Sem isso, o político se sente à vontade para cometer práticas ilícitas."
População já banca partidos políticos indiretamente
Embora o financiamento público de campanha esteja longe de ser aprovado no Congresso, prática adotada pelo Tribunal Superior Eleitoral destina parte dos impostos arrecadados pela União para manutenção de partidos políticos. O fundo partidário é composto por tributos, que são repassados às legendas.
A totalidade de recursos precisa ser avalizada pelo Congresso e depois é repartida às siglas por critérios estabelecidos pelo TSE. Entre os pontos está a representatividade do partido, artigo incluso em 2007 para minimizar a disseminação de siglas nanicas.
A regra atual versa que 42% do fundo será dividido igualitariamente entre todos os 27 partidos registrados no TSE; 29% são repartidos proporcionalmente entre as legendas que elegeram deputados federais (cálculo baseado no tamanho das bancadas); 29% são destinados a siglas que conquistaram 1% dos votos válidos das duas últimas eleições e que tenham representantes eleitos em pelo menos cinco estados.
O montante do fundo partidário aprovado pelo Congresso para 2011 é de R$ 301 milhões - aumento de R$ 100 milhões com relação a 2010. A quantia é composta por R$ 265 milhões do Orçamento da União e outros R$ 36 milhões da arrecadação de multas eleitorais.
O valor, por exemplo, é o dobro do Orçamento de Ribeirão Pires para este ano, de R$ 177 milhões, e quase metade da arrecadação de Mauá, de R$ 560 milhões.
Pela reforma que tramita na Câmara dos Deputados, o fundo partidário não será extinto, mas 5% de seu total terá de ser destinado à formação de mulheres na política.


Fonte: Raphael Rocha - do Diário do Grande ABC

Avanço das mulheres na política elege primeiros-cavalheiros no Mato Grosso do Sul


Eduardo Penedo
O deputado estadual Eduardo Rocha, que gosta de ser chamado de ‘primeiro-damo’, é um exemplo de que ao menos quando em sua casa se fala em política manda mais a mulher, no caso, a vice-governadora Simone Tebet. Que a mulher está buscando seu lugar ao sol isso é fato sacramentado.Elas ocupam cargos de ministra do Superior Tribunal Federal (STF), prefeitas, deputadas, vereadoras e tantas outras funções de comando Brasil afora.
A presidenta Dilma Rousseff (PT) está ai para reforçar essa máxima. E para o homem que antes era detentor dos poderes políticos sobrou o cargo outrora ocupado pelas mulheres de primeira-dama para o ‘primeiro-damo’, melhor, primeiro-cavalheiro como são chamados os maridos das damas que comandam o Executivo, como governos e prefeituras.
Apesar de o Brasil eleger a primeira mulher presidente da história, só duas comandam estados do país. Com o resultado, o consecutivo aumento de mulheres eleitas governadoras nas últimas eleições é interrompido.
Em 2006, foram eleitas três mulheres – o recorde. Em 2002, foram duas; em 1998, uma. Em 1990, só os homens foram eleitos para o cargo.
Em Mato Grosso do Sul isso já virou rotina para alguns homens. Pelo menos em nove municípios o comando da administração está nas mãos das mulheres.
Para exemplificar essa sina que se tornou ser ‘primeiro-damo’ para alguns homens está o deputado estadual Eduardo Rocha (PMDB), hoje deputado estadual.
Segundo o parlamentar, ele já está acostumado em ser o primeiro cavalheiro - ele brinca que é primeiro-damo. “Fui o primeiro de Mato Grosso do Sul quando Simone Tebet [eleita no ano passado vice-governadora de Mato Grosso do Sul] foi eleita prefeita de Três Lagoas e depois virei por 15 dias primeiro-damo do Estado”.
“Eu já estou acostumado com o cargo de primeiro-damo. Olha que eu vou ser ainda o primeiro-damo do Estado”, brinca o parlamentar.
Rocha comentou que a mosquinha azul da política o picou em razão de sua esposa Simone Tebet, que é filha do senador Ramez Tebet, morto em 2006, ingressou na vida pública.
No entanto, essa informação é rebatida por ela ao dizer que quem levou o marido para a política foi o seu pai Ramez.
“O Eduardo começou a gostar de política quando participou da campanha para o senado, a partir daí ele ficou motivado. Essa culpa não é minha, não”, brinca a vice-governadora.
Simone comenta ainda que Rocha nunca teve um cargo político quando ela era prefeita de Três Lagoas. “Eduardo é pau para toda obra. Quando teve uma enchente em Três Lagoas ele foi comigo dirigindo carro às 3 da manhã para visitar a população. Ele nunca se queixava de me acompanhar. Sempre trabalhava e não recebia nada por isso”, explica.
Rocha comenta ainda que muitas vezes teve de sair de madrugada do lado da Simone para visitar moradores com problemas. “No começo do mandato da Simone em Três Lagoas não tinha nem carro funcionando e eu ocupava a minha caminhonete para pegar terra para tapar buraco”.
Questionado se ele acha ruim ter sido primeiro-cavalheiro, ele diz que não vê nenhum problema. “Eu ajudei a Simone e ajudo quando ela precisar. Eu sempre fui mais de bastidor, agora me tornei deputado, posso ajudar a região do Bolsão [região de Três Lagoas, reduto eleitoral do casal] enquanto a Simone fica na vice-governadoria”, comenta.

História


O titulo de primeira-dama é o nome que recebe a esposa de um governante. Quando o homem é eleito prefeito, sua mulher se torna a primeira-dama da cidade; a mulher do governador torna-se a primeira-dama do Estado e a do presidente, primeira-dama da nação.
O marido da mulher que é eleita para um cargo político, por sua vez, é chamado de primeiro-cavalheiro. A criação do título é creditada ao ex-presidente dos Estados Unidos Zachary Taylor (1849-1850), o qual chamou Dolley Madison, esposa de James Madison, de "primeira-dama" (FirstLady, em inglês), durante o seu funeral, enquanto recitava um elogio escrito por ele mesmo.
O título também é dado a mulheres de cargos políticos como secretário. Como por exemplo: Primeira dama do secretário da Educação, do Desporto/Esporte, do Turismo, da Saúde

Três mulheres dividem o Prêmio Nobel da Paz de 2011

Três mulheres:  a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a militante Leymah Gbowee, também liberiana, e a jornalista e ativista iemenita Tawakkul Karman- foram laureadas com o Prêmio Nobel da Paz de 2011.
O anúncio das vencedoras foi feito nesta sexta-feira (7/10) em Oslo, capital da Noruega, pelo comitê que outorga o prêmio desde 1901. As vencedoras vão dividir um prêmio equivalente a US$ 1,5 milhão (cerca de R$  2,7 milhões).
Thorbjoern Jagland, presidente do comitê do Nobel, argumentou que as laureadas foram "recompensadas por sua luta não violenta pela segurança das mulheres e pelos seus direitos a participar dos processos de paz".
"A esperança do comitê é de que o prêmio ajude a colocar um fim na opressão às mulheres que ainda ocorre em muitos países e a reconhecer o grande potencial para democracia e paz que as mulheres podem representar", disse o presidente do comitê.
"Não podemos alcançar a democracia e a paz duradoura no mundo se as mulheres não obtêm as mesmas oportunidades que os homens para influir nos acontecimentos em todos os níveis da sociedade", disse Jagland.

Primeira presidente mulher

Ellen Johnson Sirleaf, de 72 anos, foi a primeira mulher a ser livremente eleita presidente de um país africano, em 2005.
Economista e mãe de quatro filhos,  a "Dama de Ferro" tenta a reeleição em pleito marcado para esta terça-feira (11).
"Desde sua posse em 2006, contribuiu para garantir a paz na Libéria, para promover o desenvolvimento econômico e social e reforçar o lugar das mulheres", disse Jaglan, ao justificar a premiação.
Ellen afirmou nesta sexta que ela e Leymah Gbowee aceitam o prêmio em nome do povo liberiano.



'Greve de sexo'

Sua compatriota Leymah Gbowee teve um papel importante como ativista durante a segunda guerra civil liberiana, em 2003.
Ela mobilizou as mulheres no país pelo fim da guerra, organizando inclusive uma "greve de sexo" em 2002.
Também organizou as mulheres acima de suas divisões étnicas e tribais no país, ajudando a garantir direitos políticos para elas.
Em Nova York, ela disse nesta sexta-feira estar surpresa com o prêmio e incentivou as mulheres a agirem para resolver seus problemas.

Primavera Árabe

E Tawakkul Karman, ativista iemenita pró-direitos das mulheres, tem importante participação na chamada Primavera Árabe, movimento pró-abertura democrática que vem sacudindo politicamente vários países do mundo árabe desde o início do ano.
Em entrevista à TV Al Jazeera, ela disse que o prêmio é "uma vitória para todos os ativistas iemenitas", mas que a luta pelos direitos continua no país.
"Nas mais difíceis circunstâncias, tanto antes como depois da Primavera Árabe, Tawakkul Karman teve um papel importante na luta pelos direitos das mulheres, pela democracia e pela paz no Iêmen", segundo o comitê.

Poucas mulheres

Até agora, em 111 anos, apenas 12 mulheres haviam recebido o Nobel da Paz.

Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/10/tres-mulheres-dividem-o-premio-nobel-da-paz-de-2011.html

Nota de apoio do Fórum de Homens Capixabas pelo Fim da Violência contra as Mulheres

Nós, participantes do Fórum de Homens Capixabas pelo Fim da Violência contra as Mulheres, vimos, por meio desta, manifestar apoio a Excelentíssima Senhora Ministra de Estado-Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, pelas iniciativas tomadas nas últimas semanas, a saber: representação ao Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (CONAR) solicitando a sustação da peça publicitária da empresa Hope Lingerie, carta de apoio da Subsecretaria Nacional de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres ao Sindicato dos Metroviários de São Paulo com relação ao quadro “Metrô Zorra Total” e sugestão à Rede Globo de Televisão para inserção de informações sobre a Lei Maria da Penha (11.340/06) no caso de violência doméstica presente na novela “Fina Estampa”.
Compreendemos que o entendimento sobre os três casos é correto, bem como as ações tomadas que não ferem de forma alguma a liberdade de expressão ou criação. Em um momento histórico onde se discute uma relação mais igualitária entre homens e mulheres, onde se elimine, ou ao menos minimize, a dicotomia masculino/dominante/superior x mulher/subordinado/inferior, onde se repensa a divisão sexual do trabalho que coloca a mulher com uma sobrecarga de atribuições dentro e fora do lar. Em um momento onde as estatísticas comprovam o crescimento acadêmico (já são maioria nos mais altos níveis de escolaridade) e em outros campos, onde se tem como representante maior do poder executivo uma PRESIDENTA. Enfim, é inadmissível que com avanços consideráveis que custaram o esforço e, no extremo de alguns casos, a vida de tantas companheiras, ainda tenhamos uma marca que deseja se promover com base na visão da mulher como um ser dependente e que precisa de estratégias, inclusive sexuais, para conseguir conquistar algo de seu marido.
Este Fórum é contrário a banalização da violência e do abuso sexual contra qualquer ser humano, e principalmente contra as mulheres, parcela da população historicamente discriminada em nosso contexto social e cultural. Portanto, ressaltamos a importância de se discutir quadros de humor que inferiorizam qualquer ser humano, que legitimam qualquer tipo de violência ou abuso, que naturalizam atitudes que precisam ser vistas como criminosas e que prestam um desserviço a causa assumida por todos nós: a defesa de uma sociedade mais justa e igualitária sob todos os aspectos.
A história recente de nosso país nos apresentou a face mais dura do cerceamento da liberdade de expressão, e de forma alguma abriremos mão dessa liberdade! Entretanto, a liberdade conquistada precisa ser exercida com total responsabilidade e respeito aos direitos humanos! Historicamente, a Rede Globo de Televisão, em todos os ramos de atuação, tem trabalhado em benefício da classe dominante, defendendo sob a pecha da isenção jornalística/editorial, uma visão de mundo, uma forma de compreender a política, um tipo de relação familiar, enfim, tem demonstrado de maneira transparente ou velada a quem serve enquanto veículo de comunicação. Apesar de tudo isto, entendemos, em consonância mais uma vez com a SEPM, que a “novela das 8” pode cumprir um papel educativo importante à sociedade brasileira, já que tem nível altíssimo de audiência. Por isso, fazemos coro com a bela iniciativa da Excelentíssima Senhora Ministra em sugerir que aspectos da Lei Maria da Penha (11.340/06) sejam abordados na trama de “Fina Estampa”.
Os direitos das mulheres são conquistas históricas e precisam ser defendidos por todos/todas nós! Não são entendidos como benefício somente das mulheres, mas sim de toda a sociedade. O Fórum de Homens Capixabas pelo Fim da Violência contra as Mulheres engrossa as fileiras em defesa desses direitos, parabeniza e apóia a iniciativa da SEPM, representada pela capixaba Iriny Lopes, mas muito mais do que isso saúda a todas as mulheres que não se conformam e fazem do seu cotidiano uma luta incansável por direitos e oportunidades em um contexto ainda marcado pelo machismo.
Coordenação Fórum de Homens Capixabas pelo Fim da Violência contra as Mulheres