29 de setembro de 2011

Plano Nacional de Redução da Obesidade

Pela primeira vez em sua história, o Brasil tem uma mulher na Presidência da República. Também pela primeira vez, a Revista ABESO publica entrevista exclusiva com a dirigente máxima do país, a Presidenta Dilma Rousseff, trazendo notícias sobre a área da saúde, especialmente no que se refere à mulher e à obesidade.

ABESO: Pela primeira vez, comemoramos o Dia Internacional da Mulher, a 8 de Março, tendo uma mulher na Presidência da República. Como a mulher brasileira pode esperar que isto repercuta em sua qualidade de vida nos próximos anos?
Presidenta Dilma Rousseff: Eu tenho o dever de honrar as mulheres porque sou a primeira mulher eleita Presidente da República. Fui eleita por homens e mulheres e vou honrar cada voto. Minha eleição representa, concretamente, que as meninas agora podem querer ser presidentas do Brasil. Isso constitui um avanço extraordinário no processo de combate à discriminação de gênero.

ABESO: O Governo pretende implantar políticas específicas para melhorar a saúde da mulher?
Presidenta: Já estamos fazendo isso. No dia 23 de março, lançamos uma política abrangente de combate ao câncer de mama e do colo de útero. Vamos instalar serviços especializados para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento. Serão R$ 4,5 bilhões investidos nesse desafio. Eu recebi um diagnóstico de câncer. Como a doença foi detectada no princípio, foi possível evoluir para a cura. Quero que todas as mulheres no Brasil tenham acesso aos mesmos recursos de diagnóstico e tratamento que recebi. A nossa expectativa é assegurar que milhões de brasileiras tenham acesso a um Papanicolau e a uma mamografia de qualidade e, quando necessário, possam receber tratamento humano e eficiente com radioterapia e quimioterapia. Outra ação do meu governo na área de saúde da mulher é a Rede Cegonha, que também foi lançada em março. O objetivo do programa é dar condições adequadas para que as mulheres tenham seus filhos com atendimento e proteção, desde o início da gravidez aos primeiros dias de vida da criança. Com a Rede Cegonha, a atenção básica será ampliada nas esferas de planejamento familiar, pré-natal, primeiros momentos após o parto e atenção integral à saúde da criança. Na atenção especializada, cuidaremos do pré-natal da gestante de risco e do nascimento da criança. Haverá toda uma linha de cuidados, tanto nos hospitais gerais quanto nas maternidades. Criaremos centros de parto normal ligados aos hospitais. A rede de assistência também ampliará o cuidado para o recém-nascido em risco que necessite de UTIs e UCIs neonatais.

ABESO: Em relação à obesidade, que é uma doença crônica de alta comorbidade, o quanto ela atualmente onera o sistema público de saúde e de Previdência do nosso país?
Presidenta: Cerca de metade da população adulta tem excesso de peso, que atinge também outras faixas de idade, como crianças de 5 a 9 anos e adolescentes. A obesidade cresce em todas as faixas de
idade, desde os 5 anos até a idade adulta. Quando a obesidade chega mais cedo, antecipam-se, também, doenças como diabetes, hipertensão arterial e problemas circulatórios. Isso acarreta não somente mais gastos para o sistema de saúde, como, principalmente, o comprometimento da saúde e da qualidade de vida das pessoas. Vemos crianças e adolescentes apresentando doenças crônicas cada vez mais cedo, o que é bem preocupante. O trabalho de prevenção gera custos significativos para o sistema público de saúde. Mas, em termos econômicos, estudos de custo-efetividade mostram que o que se aplica em ações preventivas – especialmente na promoção da saúde e na alimentação saudável - representa economia de gastos com o tratamento da obesidade e doenças associadas.

ABESO: Em dezembro do ano passado, o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, se juntou à ABESO dando o apoio do Ministério da Saúde para a Campanha da Obesidade Infantil e Pré-Natal que estamos desenvolvendo. Existe algum plano governamental contra a escalada da obesidade?
Presidenta: A ABESO está de parabéns por essa iniciativa, que demonstra que sociedade e poder público podem atuar juntos na promoção da saúde. Em relação às ações do Ministério da Saúde na atenção à obesidade, estão em curso várias iniciativas, desde o monitoramento do estado nutricional da população atendida pelo SUS até a implementação da Estratégia Nacional de Promoção da Alimentação Complementar Saudável, a Enpacs, que atua junto com a Rede Amamenta, orientando mães e crianças. Outro projeto importantíssimo, já em andamento, é o Programa Saúde na Escola. Uma novidade adicional, muito interessante, foi a inclusão de nutricionistas nos Núcleos de Apoio ao Programa Saúde da Família. O Ministério da Saúde também está elaborando o Plano Nacional de Redução da Obesidade, que deve ser lançado brevemente. É um Plano com diversas abordagens, como o aumento da oferta de alimentos saudáveis, a promoção da alimentação saudável e da prática de atividade física, estratégias de informação e comunicação, e controle e regulação de alimentos.
Considero que uma área fundamental nesse contexto é a da indústria de alimentos. O governo federal trabalha junto com o setor produtivo buscando a redução dos teores de gorduras, açúcar e sódio nos alimentos processados. Já conseguimos êxitos expressivos na redução e eliminação das gorduras trans em várias categorias de alimentos. E estamos discutindo proposta específica para a redução do consumo de sal e sódio pela população. Pelos esforços que vem fazendo na prevenção da obesidade, o Brasil obteve reconhecimento em nível internacional, por meio do International
Obesity Taskforce (IOTF), que encaminhou mensagem de congratulações ao Ministério da Saúde, em agosto de 2010. Eles deram destaque às ações brasileiras de regulação da publicidade de alimentos, de
monitoramento das tendências de obesidade na população, de gerenciamento da obesidade nos serviços de saúde, de estímulo ao aleitamento materno e introdução adequada e oportuna dos alimentos após o período de amamentação e, também, aos avanços na alimentação escolar.

ABESO: Quais áreas do governo seriam mobilizadas na campanha contra a obesidade? Apenas a área da saúde ou outras, como esporte e educação?
Presidenta: Não há dúvida de que alimentação e atividade física são o “remédio” certo contra o excesso de peso e a obesidade. Fica claro, também, que o setor da saúde não é capaz de enfrentar sozinho o desafio. Portanto, é imperativo que sejam também envolvidos outros setores, como a educação, a agricultura, o desenvolvimento agrário, o desenvolvimento social, trabalho e emprego, esportes e o setor privado. Cada setor deve contribuir, com sua competência específica, para a produção de alimentos nutricionais ideais e para a prática e a formação de hábitos e estilos de vida saudáveis, que incluam o binômio alimentação-atividade física. É importante, sobretudo, desenvolver ações que levem a população a se conscientizar e a consumir o que é sinônimo de saúde.

Fonte: Revista da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica