23 de novembro de 2011

Modelo a ser seguido: Mulheres têm lugar de destaque na campanha eleitoral argentina



A participação das mulheres na política argentina ganha cada dia mais importância. A proeminência feminina foi perceptível ao longo de toda a campanha para as eleições presidenciais, legislativas e provinciais que serão realizadas neste domingo.

Além do destaque obtido nos últimos anos pela candidata à reeleição presidencial, Cristina Kirchner - que já ultrapassou 50% da preferência de votos -, o sexo feminino tem presença substancial na conformação das listas de deputados dos principais partidos e na disputa por outros cargos executivos. Na lista dos candidatos a deputados nacionais por Buenos Aires da Frente para a Vitória, o partido do governo, três dos sete primeiros são mulheres. Já na União para o Desenvolvimento Social, uma das principais coligações de oposição ao atual governo, dois dos cinco principais candidatos são do sexo feminino.

Com menor participação direta de mulheres - ao menos no que se refere ao topo de suas listas -, estão as coligações Frente Ampla Progressista e Frente Popular. Na primeira, cujo candidato à presidência é Hermes Binner - segundo lugar na preferência dos eleitores -, há uma mulher entre os cinco primeiros candidatos. A coalizão que coloca Eduardo Duhalde na disputa pelo executivo nacional também tem uma mulher entre os quatro primeiros lugares da lista. A situação se repete nas listas dos demais partidos sobre a cidade de Buenos Aires.

Além disso, há mulheres que concorrem à presidência e vice-presidência. Entre as primeiras, além da atual presidente, está Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, que atualmente é deputada nacional e gera polêmicos embates oposicionistas. Na briga pelo cargo de vice-presidente, encontra-se Norma Morandini, senadora pela província de Córdoba que acompanha Hermes Binner na fórmula presidencial da coligação do Frente Ampla Progressista. Elas têm participação significante também nas candidaturas para os governos das nove províncias que decidirão seus representantes neste domingo.

Argentina é destaque mundial

A inserção de mulheres na política argentina começou a se intensificar principalmente a partir de uma lei aprovada há duas décadas, que estabelece uma política de cotas para o poder legislativo. A norma obriga que haja um mínimo de 30% de mulheres entre o total de candidatos a legisladores.

Parece que os argentinos gostaram da proposta, pois hoje a presença de mulheres na Câmara de Deputados é de 38%. Essa porcentagem coloca a Argentina em posição de destaque em nível mundial, estando entre os 12 países que possuem maior participação feminina no Parlamento. O país vizinho está muito distante do Brasil, por exemplo, onde as deputadas são cerca de 10% do total de parlamentares.

A candidata a deputada pelo Frente para a Vitória María del Carmen Bianchi, salienta que esse aumento da participação feminina no Parlamento não se dá somente de forma genérica, mas também no que se refere aos primeiros lugares e à forma como se distribuem os cargos mais importantes. Ela ocupa o segundo lugar na lista da coligação na capital federal.

Mudanças provocadas por mulheres

A presença feminina proporciona a inclusão de novos temas na pauta do Congresso e permite novos olhares sobre assuntos que já vinham sendo discutidos.

A candidata a deputada María del Carmen Bianchi explica que, nos últimos anos, houve um grande avanço em políticas direcionadas às mulheres. "Modificaram-se partes do código civil, do código penal, do código de família, além de várias legislações de segunda linha que não permitiam o reconhecimento da mulher em igualdade de condições", destacou a candidata.

Por outro lado, a candidata a deputada pela União para o Desenvolvimento Social, Fabiana Campos, terceira da lista da coligação pela capital argentina, acredita que a principal conquista se refere ao maior controle de tráfico de pessoas. Mas salienta que a maior participação das mulheres no Congresso proporciona cada vez mais avanços em tudo o que se refere a temas de gênero e de minorias, como a inclusão dos homossexuais, por exemplo.

Mudanças que estão por vir

Apesar desse avanço, ainda há muito para melhorar. A candidata a deputada Fabiana Campos lembra que "a participação feminina cresceu muito nos grandes centros, mas o grande problema ainda são os pequenos lugarejos, onde há uma visão predominantemente masculina".

María del Carmen Bianchi salienta outro ponto importante. A candidata conta que, ao contrário do que acontece no Parlamento, nas empresas e instituições argentinas há poucas mulheres com cargos importantes, como gerência ou diretoria. Por isso, ela afirma que deseja trabalhar para promover a igualdade de oportunidades trabalhistas para mulheres e jovens. Na mesma linha, Campos destaca que ainda existe muita desigualdade de remuneração entre homens e mulheres no mercado de trabalho, incluindo o caso da presidenta da nação.

Ambas as candidatas crêem que a violência é uma questão fundamental. Bianchi diz que um dos seus principais projetos tem a ver com segurança cidadã, enquanto Campos enfatiza que pretende criar grupos de auto-ajuda para diminuir a violência familiar que existe hoje e afeta principalmente crianças e mulheres.
Apesar de a vitoria de Kirchner estar aparentemente garantida, permanece a incógnita sobre a conformação do Congresso - o que, em tese, poderia influenciar nas discussões e avanços das questões de gênero e de direitos humanos. Porém, a campanha indica que há pouco risco de a Argentina registrar um regresso nesse sentido, já que temas como esse permeiam os planos de governo da maioria dos partidos.