Aguerrida, ousada, forte, coerente, passional, corajosa, inteligente.
Esses e muitos outros foram adjetivos usados por políticos
pernambucanos para qualificar e relembrar a jornalista, professora e
deputada federal Cristina Tavares. Em 23 de fevereiro de 1992 um câncer
calaria de vez aquela que foi uma das principais vozes da oposição à
ditadura militar no Congresso Nacional. Mas que, mesmo passado tanto
tempo, não parece ter perdido força na memória política pernambucana,
sempre lembrada pelas posições firmes que defendia e atuação em defesa
da redemocratização, das eleições diretas, direitos das mulheres e dos
trabalhadores.
Primeira mulher pernambucana a ocupar uma das 513 cadeiras do
plenário da Câmara Federal, os 20 anos do falecimento de Cristina
Tavares coincidem de ocorrer na mesma semana que se celebra os 80 anos
da publicação do Código Eleitoral Provisório, que garantiu às mulheres o
direito do voto, ainda na Era Vargas.
Nascida em 10 de junho de 1934, Cristina é filha de José Tavares, Maria Mercês e de Garanhuns. Como jornalista, foi repórter do Jornal do Commercio,
do Diario de Pernambuco e da sucursal pernambucana da Folha de São
Paulo. Militou no então MDB na ala conhecida como “Movimento Autêntico”
ao lado de nomes como Jarbas Vasconcelos e Ulysses Guimarães, de quem
foi assessora e foi aquele que a convenceu a concorrer a um mandato
eletivo. Acumulou três consecutivos como deputada federal de 1979 a
1991.
Como parlamentar, apresentou 139 projetos, proferiu 334 discursos,
participou de duas Comissões Permanentes como membro titular e outras
duas como relatora. Integrou ainda três Comissões Parlamentares de
Inquérito, entre elas a que apurou as cheias do Rio São Francisco em
1980. Cristina também foi membro da Assembléia Nacional Constituinte,
que de fevereiro de 1987 a outubro de 1988 elaborou a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. Destacou-se na relatoria da
subcomissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação.
O ex-deputado estadual Pedro Eurico considera Cristina Tavares uma
das figuras que mais marcaram sua trajetória política. Ele relembra um
curioso ato no qual jogaram um caixão cheio de pedras no Rio Capibaribe
simbolizando o enterro das eleições indiretas de 1985. Depois de alguns
momentos de relutância em afundar, que deixou Cristina apreensiva, a
urna mortuária finalmente cedeu, para alivio dos manifestantes. “Algum
tempo depois, ela se reuniu com o Dr. Tancredo Neves e saiu convencida
de que as eleições indiretas representavam um avanço, um passo
necessário. Isso demonstra que apesar de radical na defesa de suas
posições, Cristina também era uma mulher racional, muito inteligente,
que sabia ceder”, ponderou Pedro Eurico.
Em 1988 ela se desliga do PMDB, onde havia militado por toda sua
carreira política, para participar da fundação do PSDB em Pernambuco.
Nas eleições daquele ano compôs chapa como vice na candidatura do
ex-deputado Marcos Cunha (PMDB) à Prefeitura do Recife. Derrotada nas
urnas por Joaquim Francisco (PFL), voltou à Câmara Federal e em 1989
entrou em conflito com seu novo partido por conta da filiação e
indicação do nome do ex-governador Roberto Magalhães para ser candidato à
vice do candidato presidencial Mário Covas, uma pressão da cúpula
nacional do partido. “Localmente, Roberto era um nome estranho para
Cristina e ela não se adaptou a decisão e achou melhor sair”, lembrou
João Braga, outro fundador do PSDB no Estado. A chapa formada por Covas e
Magalhães não chegou a se concretizar.
Após abandonar o ninho tucano, Cristina juntou-se ao PDT de Fernando
Lyra e apoiou a candidatura de Leonel Brizola e Lyra no pleito
presidencial. Não conseguiu se reeleger nas eleições gerais de 1990,
quando obteve 14.903 votos. Saiu da Câmara dos Deputados no inicio de
1991, com a troca da legislatura, e faleceu em Houston (EUA) pouco mais
de um anos depois, no dia 23 de fevereiro de 1992.
Fonte: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/politica/noticia/2012/02/25/os-muitos-adjetivos-para-lembrar-cristina-tavares-33466.php