6 de março de 2012

Apenas 19% dos altos cargos são ocupados por mulheres

O estudo da Mercer sobre a taxa de ocupação dos cargos executivos e de gestão por mulheres e homens revela que na Europa 19% destes cargos são ocupados por mulheres. A divulgação destes dados insere-se no âmbito do Dia Internacional da Mulher, dia 8 de Março, e pretende também destacar o empenho por parte da União Europeia em potenciar o número de mulheres a ascender a cargos superiores nas empresas.

Os homens continuam assim a ter maior percentagem de ocupação de altos cargos, na ordem dos 71%, de acordo com o estudo da consultora internacional de gestão e investimentos. Portugal ocupa a 19ª posição no ranking dos países com a maior representação feminina em cargos executivos.

O estudo analisou dados de 264 mil executivos e gestores de topo em 5.321 empresas, e considera que um cargo executivo corresponde a um membro da administração da empresa, enquanto que um cargo de gestão corresponde a um cargo de responsável de uma operação num determinado país ou de uma unidade de negócio.

"Para um género que abrange mais de metade da população mundial, a representação feminina em cargos empresariais de topo é muito baixa. A causa desta situação é complexa e deve-se sobretudo a questões culturais e sociais. Nalguns casos representa uma discriminação intencional, mas poderá ser inconsciente, representando o desejo de contratar um semelhante. O resultado final de todas estas questões é a criação de uma estrutura imparcial para as mulheres na vida empresarial", disse Mónica Santiago, Sénior Partner da Mercer.

"A carreira de uma mulher também sofre uma 'penalização com a maternidade' aos olhos dos empregadores, pela prioridade dada aos deveres maternais em detrimento do trabalho. A cultura empresarial desempenha um papel importantíssimo na decisão das mulheres em excluírem-se da vida empresarial. Se a cultura da empresa em relação aos detentores de cargos de topo passar por uma expectativa de um determinado comportamento, incluindo dar prioridade ao trabalho em detrimento de compromissos familiares, as mulheres muitas vezes optam por virar costas ao progresso na carreira", acrescentou a mesma responsável.

Segundo o estudo sobre o desenvolvimento da liderança feminina, realizado em conjunto com as revistas "Talent Management" e "Diversity Executive", "em 2010, não obstante os esforços das organizações para alcançarem uma mão-de-obra diversificada, a maioria – 71% –, não possui uma estratégia ou filosofia claramente definida para a evolução e integração das mulheres em cargos de liderança, sabendo o papel importante que detêm nas decisões de consumo", revela a Mercer.

"A representação feminina nos Conselhos de Administração das empresas é uma questão central e há uma grande polémica na UE em matéria de diversidade. Naturalmente, não se trata apenas de uma questão de género, apesar de a discriminação ser nefasta sob qualquer forma. Trata-se também de uma questão de talento, pois este tipo de parcialidade numa empresa limita o grupo de candidatos e o conjunto de competências. Uma mão-de-obra mais diversificada proporciona o aumento da inovação e a criatividade."

O estudo revela ainda o impacto dos factores culturais, apresentando como exemplo a Arábia Saúdita, onde não há mulheres em cargos de topo. O Qatar encontra-se em penúltimo lugar na lista, com apenas 7% dos cargos a serem desempenhados por mulheres.

Também os Países Baixos ocupam uma posição muito próxima. "A percentagem dos Países Baixos sugere que se trata de um país muito conservador na sua abordagem à igualdade no local de trabalho", explica Mónica Santiago.

O estudo da Mercer revela que a União Europeia está empenhada em enfrentar a desigualdade de géneros e a disparidade salarial entre homens e mulheres no âmbito do Plano de Acção em Matéria de Igualdade entre Géneros.

Segundo o estudo, os países do antigo bloco soviético apresentam os níveis mais elevados de participação feminina e igualdade na Europa. "A igualdade é um legado dos tempos soviéticos, durante os quais a vida cultural e política encorajava as mulheres a desempenhar um papel igual na sociedade e na economia, pelo que as mulheres estão bem representadas", realçou Mónica Santiago.

"Na Europa Ocidental, os países com a maior proporção de mulheres em posições executivas entre os países estudados são a Grécia e a Irlanda (33%), seguidas da Suécia (30%) e da Bélgica (29%). Espanha, Reino Unido e França apresentaram 28% de representação feminina. Seguiram-se a Dinamarca e Portugal (27%), Finlândia, Suíça e Noruega (25%), Itália (22%), Áustria (21%), Alemanha (20%) e os Países Baixos (19%)".

"Há vários anos que estão implementados sistemas de quotas com vista a aumentar a representação feminina a nível empresarial em países como Espanha, Noruega, França, Bélgica e Itália", avança o estudo.

Já na Europa Central e de Leste a divisão entre representação executiva feminina e masculina é mais igualitária na Lituânia, onde 44% dos executivos são mulheres, seguida da Bulgária, com 43%, Federação Russa, com 40%, e Estónia e Cazaquistão, com 37%.

"Os países com a representação feminina mais elevada são a Sérvia (36%), a Ucrânia (35%), a Roménia (34%), a Hungria (33%), a Polónia (30%), a Eslováquia (30%) e a República Checa (27%)."

No Médio Oriente, as mulheres representam 26% da mão-de-obra executiva, 23% em Marrocos, 17% nos Emirados Árabes Unidos, 16% no Egipto e 7% no Qatar. Na Arábia Saudita não há registo de qualquer participação feminina.

"Por vezes, em momentos de crescimento económico recente, verificámos que muitas empresas deram instruções específicas a 'head hunters' no sentido de recrutarem mais mulheres executivas", diz Mónica Santiago. "Esta tendência desvaneceu-se com a deterioração da economia, sugerindo que muitas empresas consideram este recrutamento um luxo. A incapacidade das empresas para melhorarem a representação feminina irá simplesmente levar os governos a regularem a questão para efectivar a mudança", conclui Mónica Santiago.

Fonte:  http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=542369