O estudo da Mercer sobre a taxa de ocupação dos cargos executivos e de
gestão por mulheres e homens revela que na Europa 19% destes cargos são
ocupados por mulheres. A divulgação destes dados insere-se no
âmbito do Dia Internacional da Mulher, dia 8 de Março, e pretende também
destacar o empenho por parte da União Europeia em potenciar o número de mulheres a ascender a cargos superiores nas empresas.
Os
homens continuam assim a ter maior percentagem de ocupação de altos
cargos, na ordem dos 71%, de acordo com o estudo da consultora
internacional de gestão e investimentos. Portugal ocupa a 19ª posição no
ranking dos países com a maior representação feminina em cargos
executivos.
O estudo analisou dados de 264 mil executivos e
gestores de topo em 5.321 empresas, e considera que um cargo executivo
corresponde a um membro da administração da empresa, enquanto que um
cargo de gestão corresponde a um cargo de responsável de uma operação
num determinado país ou de uma unidade de negócio.
"Para um
género que abrange mais de metade da população mundial, a representação
feminina em cargos empresariais de topo é muito baixa. A causa desta
situação é complexa e deve-se sobretudo a questões culturais e sociais.
Nalguns casos representa uma discriminação intencional, mas poderá ser
inconsciente, representando o desejo de contratar um semelhante. O
resultado final de todas estas questões é a criação de uma estrutura
imparcial para as mulheres na vida empresarial", disse Mónica Santiago,
Sénior Partner da Mercer.
"A carreira de uma mulher também sofre
uma 'penalização com a maternidade' aos olhos dos empregadores, pela
prioridade dada aos deveres maternais em detrimento do trabalho. A
cultura empresarial desempenha um papel importantíssimo na decisão das
mulheres em excluírem-se da vida empresarial. Se a cultura da empresa em
relação aos detentores de cargos de topo passar por uma expectativa de
um determinado comportamento, incluindo dar prioridade ao trabalho em
detrimento de compromissos familiares, as mulheres muitas vezes optam
por virar costas ao progresso na carreira", acrescentou a mesma
responsável.
Segundo o estudo sobre o desenvolvimento da
liderança feminina, realizado em conjunto com as revistas "Talent
Management" e "Diversity Executive", "em 2010, não obstante os esforços
das organizações para alcançarem uma mão-de-obra diversificada, a
maioria – 71% –, não possui uma estratégia ou filosofia claramente
definida para a evolução e integração das mulheres em cargos de
liderança, sabendo o papel importante que detêm nas decisões de
consumo", revela a Mercer.
"A representação feminina nos
Conselhos de Administração das empresas é uma questão central e há uma
grande polémica na UE em matéria de diversidade. Naturalmente, não se
trata apenas de uma questão de género, apesar de a discriminação ser
nefasta sob qualquer forma. Trata-se também de uma questão de talento,
pois este tipo de parcialidade numa empresa limita o grupo de candidatos
e o conjunto de competências. Uma mão-de-obra mais diversificada
proporciona o aumento da inovação e a criatividade."
O estudo
revela ainda o impacto dos factores culturais, apresentando como exemplo
a Arábia Saúdita, onde não há mulheres em cargos de topo. O Qatar
encontra-se em penúltimo lugar na lista, com apenas 7% dos cargos a
serem desempenhados por mulheres.
Também os Países Baixos ocupam
uma posição muito próxima. "A percentagem dos Países Baixos sugere que
se trata de um país muito conservador na sua abordagem à igualdade no
local de trabalho", explica Mónica Santiago.
O estudo da Mercer
revela que a União Europeia está empenhada em enfrentar a desigualdade
de géneros e a disparidade salarial entre homens e mulheres no âmbito do
Plano de Acção em Matéria de Igualdade entre Géneros.
Segundo o
estudo, os países do antigo bloco soviético apresentam os níveis mais
elevados de participação feminina e igualdade na Europa. "A igualdade é
um legado dos tempos soviéticos, durante os quais a vida cultural e
política encorajava as mulheres a desempenhar um papel igual na
sociedade e na economia, pelo que as mulheres estão bem representadas",
realçou Mónica Santiago.
"Na Europa Ocidental,
os países com a maior proporção de mulheres em posições executivas
entre os países estudados são a Grécia e a Irlanda (33%), seguidas da
Suécia (30%) e da Bélgica (29%). Espanha, Reino Unido e França apresentaram 28% de representação feminina. Seguiram-se a Dinamarca e Portugal (27%), Finlândia, Suíça e Noruega (25%), Itália (22%), Áustria (21%), Alemanha (20%) e os Países Baixos (19%)".
"Há
vários anos que estão implementados sistemas de quotas com vista a
aumentar a representação feminina a nível empresarial em países como
Espanha, Noruega, França, Bélgica e Itália", avança o estudo.
Já na Europa Central
e de Leste a divisão entre representação executiva feminina e masculina
é mais igualitária na Lituânia, onde 44% dos executivos são mulheres,
seguida da Bulgária, com 43%, Federação Russa, com 40%, e Estónia e
Cazaquistão, com 37%.
"Os países com a representação feminina mais elevada são a Sérvia (36%), a Ucrânia (35%), a Roménia (34%), a Hungria (33%), a Polónia (30%), a Eslováquia (30%) e a República Checa (27%)."
No Médio Oriente, as mulheres representam 26% da mão-de-obra executiva, 23% em Marrocos,
17% nos Emirados Árabes Unidos, 16% no Egipto e 7% no Qatar. Na Arábia
Saudita não há registo de qualquer participação feminina.
"Por
vezes, em momentos de crescimento económico recente, verificámos que
muitas empresas deram instruções específicas a 'head hunters' no sentido
de recrutarem mais mulheres executivas", diz Mónica Santiago. "Esta
tendência desvaneceu-se com a deterioração da economia, sugerindo que
muitas empresas consideram este recrutamento um luxo. A incapacidade das
empresas para melhorarem a representação feminina irá simplesmente
levar os governos a regularem a questão para efectivar a mudança",
conclui Mónica Santiago.
Fonte: http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=542369